segunda-feira, 29 de março de 2010

O Ladrão e a Aranha

Um dia desses, eu estava na casa de mina irmã, e enquanto eu fazia algo que não me lembro exatamente o quê, ela corrigia alguns exercícios de seus alunos. Era uma turma de policiais, que parece, estavam se preparando para concursos internos, e uma das questões dizia respeito a um assassinato fictício. Em resumo, um homem entra em casa e vê uma pessoa estranha assaltando sua residência, na penumbra; o homem, que estava armado, atira e mata o assaltante para proteger sua casa e sua vida, mas para agravar o caso, o assaltante era ainda adolescente. Guardem essa história pois já iremos voltar a ela.

Pouco depois, nesse mesmo dia, eu pedi à minha irmã que me arrumasse algum pote ou copo descartável, pois tinha uma aranha no corredor e eu queria colocá-la para fora de casa, pois optei por não matar mais nenhum ser. No entanto, minha irmã, que como a maioria das pessoas não se preocupa em matar insetos, quando viu a aranha simplesmente pisou em cima dela. Isso me deixou verdadeiramente triste, mas gerou um diálogo que me levou a uma reflexão bem interessante (pelo menos eu achei interessante).

A justificativa da minha irmã para ter matado a aranha é que ela poderia ser venenosa e picar alguma de suas filhas (uma com 3 e outra com 10 anos). Eu disse que não havia necessidade de matá-la, bastava colocar para fora de casa, e ela disse “Para ela voltar depois?”. Eu argumentei então que bastava colocá-la em uma árvore, que seria um lugar adequado e agradável para ela, que ela não voltaria. A conversa ainda continuou mais um pouco, pois ela temia que a aranha pudesse picar alguém do condomínio, etc, etc, etc.

Bom, o que interessa é que a história da aranha me fez pensar no exercício que ela havia corrigido; por que o homem matou o garoto ao entrar em casa? Porque temeu por sua própria vida. Mas porque simplesmente não pôs o bandido em mira e ordenou que saísse de sua casa? Provavelmente temia que ele pudesse voltar depois e se vingar. Então eu pensei, se esse homem, tal qual vários iluminados vieram nos ensinar, demonstrasse tamanha compaixão pelo jovem e resolvesse ajudá-lo, se apenas o tivesse rendido, por segurança, e conversasse com ele, procurando saber o porquê da vida que ele estava levando, e encaminhasse-o para um lugar agradável, uma instituição que pudesse ajudá-lo a se recuperar, mostrando a ele um caminho de amor, será que ele voltaria para se vingar? Eu penso que não, eu penso que se ele voltasse seria para agradecer.

Não estou preocupado nessa reflexão se não existe tal lugar, se isso é uma utopia na nossa sociedade, pois não estou pensando pequeno, não quero prender minhas reflexões ao “real”, pois em muitos casos é por isso que nunca chegamos ao ideal, pois quase nunca damos ao ideal a possibilidade de se manifestar.

Talvez se conseguirmos tratar os pequenos animais, que de nenhuma forma ameaçam nossa vida, com maior compaixão e respeito, talvez consigamos de uma forma mais fácil estender essa mesma compaixão e respeito a todos os nossos semelhantes. Claro que vocês podem pensar, “como uma aranha venenosa não é um risco à nossa vida?”, mas ela só é um risco enquanto estamos na ignorância a respeito dela. Pergunte a um biólogo que trata de animais peçonhentos se ele tem medo de aranhas, cobras ou escorpiões, eu imagino que não, e esse não medo vem simplesmente do conhecimento do outro.

É isso aí gente, desculpem se o texto ficou muito pesado, mas esse tempo sem escrever me enferrujou um pouco.

Espero que semana que vem tenha mais.

Obrigado a todos,
Mateus