sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

As lições do Haiti

Passada pouco mais de uma semana do terremoto que devastou o Haiti, consegui reunir algumas reflexões a respeito do que ocorreu lá e gostaria de compartilhar com vocês. Em primeiro lugar vale entender a magnitude do desastre; o Haiti praticamente acabou pelo que vemos através dos jornais, e é muito provável que o número de mortos em função do terremoto continue crescendo, mesmo que agora de forma indireta, sejam por infecções “hospitalares” (entre aspas porque hospitais mesmo praticamente não existem mais), doenças sanitárias, por fome, conflitos gerados pela fome ou em tentativas de fuga do país.

Eu entendo que o Haiti acabou, e me perguntei por que lá? Justo o país mais pobre das Américas. Acreditando que nada é por acaso, talvez por ser o país menos preparado estruturalmente para essa tragédia, tenha o povo mais forte para suportar essa adversidade, haja vista os resgates de pessoas vivas que aconteceram mais de uma semana após os desabamentos.

Outro motivo é o sentimento de compaixão e solidariedade que essa tragédia despertou. Nessa época de mudanças, em que precisamos mais do que nunca nos tornar seres compassivos, e como diz meu mestre, depois de tantos exemplos de amor que nos foram dados e não assimilados, vem uma tragédia para nos ensinar pela dor, uma dor tão forte que nos fez, a todos, pensar um pouco mais no próximo.

Mas mesmo com toda essa ajuda, e apesar de sabermos das dificuldades de distribuição e entrega dessas doações no Haiti, me choca o desprezo com que os haitianos estão sendo tratados. Nos primeiros dias, as equipes de resgate internacional se focaram em salvar seus compatriotas, somente depois iniciaram o salvamento dos haitianos. O próprio EUA 100% disposto a “ajudar” já montou operações para evitar que refugiados do Haiti entrem no seu país.

Talvez o maior ensinamento que essa tragédia nos dará, pois a meu ver o Haiti é um país, hoje, condenado, é de que antes de sermos cidadãos desse ou daquele país, somos acima de tudo seres humanos, nascidos do ventre da mesma Mãe Terra, e devemos nos tratar dessa forma. Eu me pergunto como qualquer país signatário dos Direitos Humanos pode negar abrigo imediato a pessoas que não têm nem mesmo o que comer, fora todos outros direitos básicos do ser humano.

Eu já ouvi, ou li, que uma das mudanças da Nova Era é o fim das fronteiras, talvez os terremotos no Haiti estejam apenas nos preparando para essa realidade, pois creio que mais importante que levar suprimentos aos haitianos, é levar os haitianos aonde possam viver com dignidade.

Muito obrigado a todos,
Mateus

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Desastres

Depois de uma longa ausência, não por falta de assunto, mas principalmente por uma provável insegurança subconsciente, é hora de voltar a escrever. Refleti muito sobre o tema de hoje, e talvez o medo de ser apocalíptico, ou passar a idéia de querer dizer uma verdade, tenham me feito demorar tanto a escrever esse texto.

Sendo assim, gostaria de frisar, novamente, que esse texto reflete apenas a minha visão pessoal, e não pretende ser uma descrição da verdade, e ao contrário do que alguns de meus textos possam sugerir, não acredito que estejamos caminhando para o “Fim do Mundo”, mas apenas para uma era de profundas transformações.

Desde o início do ano, quando ocorreram as tragédias de Angra dos Reis, São Luis do Paraitinga e outras, em decorrência das fortes chuvas que castigaram boa parte do nosso país, quis escrever a respeito. Essas tragédias, infelizmente, não foram fato novo para nós, ano passado testemunhamos diversos reveses naturais, principalmente em função de chuva e tempestades de ventos no Sul e Sudeste do país.

O que gostaria de dividir com vocês, é a minha impressão sobre os acidentes de 2009 em comparação aos de 2010. Em 2009 ocorreram vários desastres naturais, de proporções seriíssimas, mas que me chamaram atenção pelo baixo índice de mortes e até mesmo pessoas acidentadas, em proporção aos estragos ocorridos.

Lembro-me de uma escola no ABC Paulista, que toda cobertura da quadra esportiva caiu, mas não houve um ferido sequer; a explosão do bazar em Santo André, que destruiu quase que um quarteirão e ocasionou apenas dois óbitos, dentre uma série de outros acidentes. Esse padrão parece ter se repetido também em países do exterior, pelas poucas notícias que assisto. O meu sentimento em relação a esses acidentes é que foram avisos, avisos nos dando uma chance de perceber o que está por vir.

Em 2010, no entanto, já começamos o ano com mais de 50 mortos em Angra dos Reis; São Luís do Paraitinga, apesar da falta de óbitos civis, é como se a cidade tivesse morrido (ainda estou refletindo sobre como uma cidade com uma preocupação ecológica declarada, além de um reduto cultural incomparável no estado de São Paulo sofreu uma tragédia dessas proporções).

Ainda por cima, em contraste com os grandes desastres, sem vítimas significativas do ano passado, na segunda semana do ano, a cobertura de um ponto de ônibus cai e mata um senhor, no dia seguinte, cai uma marquise de dois metros quadrados e mata um garoto. E nem há o que dizer sobre o terremoto no Haiti. Agora o meu sentimento é que a época dos avisos acabou.

Mas não penso que seja o fim do mundo, mas apenas o momento de refletirmos sobre momentos de mudança; se mudar é tão difícil assim; e se a mudança for mesmo inevitável, que papel queremos desempenhar nesse processo.

Muito obrigado e boa semana a todos,

Mateus