sexta-feira, 9 de abril de 2010

Medo de Mudanças

Uma amiga me pediu, depois do último texto, para escrever algo sobre medo de mudanças. A princípio ia deixar esse tema para depois, pois pensava em escrever sobre escolhas, o que de certa forma abordaria também o assunto mudanças. Mas ao longo da semana acabei me lembrando de algumas reflexões que fiz sobre o tema há pouco tempo, e como um pensamento puxa outro, mudei de idéia e resolvi escrever sobre mudanças de uma vez.

Uma das coisas que passou pela minha cabeça é como o medo da mudança é tão sem propósito quanto o medo da morte, pois são acontecimentos inevitáveis. Sendo assim, não é melhor nos prepararmos para passar bem por esses acontecimentos, ao invés de temê-los? E pensando nas mudanças e na morte percebi como mudanças não são nada além de pequenas mortes, momento a momento, e se uma das melhores maneiras de morrermos em paz é ter a certeza de que vivemos bem nossa vida, vivendo intensamente cada momento fica mais fácil aceitar as mudanças.

Eu entendo que mudanças são etapas importantes de transformação, e parte integrante de nossa evolução, sem mudança não há evolução, e a natureza está aí para nos mostrar isso. Pensemos, por exemplo, no que acontece a um músculo do corpo que não muda sua posição, ele não abandona sua zona de conforto e fica lá, nunca se estende nem se contrai, fatalmente ele irá definhar, ficando cada vez mais fraco. Por outro lado, um músculo que sempre se exercita e muda de forma todo o tempo, se torna cada vez mais forte e flexível.

Outro fato que percebi a respeito das mudanças é sua manifestação tão mais forte e avassaladora quanto maior o esforço que fazemos para evitá-las. Parece até mesmo que se entendermos que as mudanças são inevitáveis, e ao invés de repudiá-las as acolhermos, elas acontecerão de forma tão suave que talvez nos pareça que elas nem aconteceram.

Uma imagem que pode ilustrar essa idéia é a de alguém sentado em meditação; se uma pessoa se sentar para meditar, acreditando que não poderá exprimir nenhum pensamento, sentido, ou ação fisiológica, em pouco tempo estará tão incomodada que transferirá essa agitação para seu exterior e sua meditação não acontecerá; já quem sabe que os processos internos não deixam de acontecer e simplesmente os aceita, é capaz de permanecer em meditação por períodos tão longos que a imobilidade externa irá se interiorizar, cessando assim a turbulência interna.

Mas como tudo, não adiante saber que mudanças são boas se não colocarmos isso em prática. Eu sei que há mudanças muito difíceis de serem encaradas, mas talvez um bom caminho seja nos prepararmos com pequenas mudanças, comecemos a aceitar pequenas mudanças em nossa vida, como mudar o caminho de casa ao trabalho, mudar a mão que escova os cabelos, mudar hábitos alimentares, e aos poucos estaremos preparados para grandes mudanças. Vale até mesmo a dica da meditação acima.

Foi pensando nessas coisas que tive um novo entendimento da famosa frase de Fernando Pessoa, “Tudo vale a pena se a Alma não é pequena”. Se a Alma for grande o suficiente para sempre aprender, não há nada que não nos leve adiante, até mesmo o que parecer um enorme revés em nossa vida servirá para nossa evolução. Isso me fez lembrar outro fato agora, os budistas dizem que o momento mais fecundo para um ser humano atingir a iluminação é o momento de sua morte. Pensem nisso.

Obrigado a todos! Com amor,
Mateus

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Ladrão e a Aranha

Um dia desses, eu estava na casa de mina irmã, e enquanto eu fazia algo que não me lembro exatamente o quê, ela corrigia alguns exercícios de seus alunos. Era uma turma de policiais, que parece, estavam se preparando para concursos internos, e uma das questões dizia respeito a um assassinato fictício. Em resumo, um homem entra em casa e vê uma pessoa estranha assaltando sua residência, na penumbra; o homem, que estava armado, atira e mata o assaltante para proteger sua casa e sua vida, mas para agravar o caso, o assaltante era ainda adolescente. Guardem essa história pois já iremos voltar a ela.

Pouco depois, nesse mesmo dia, eu pedi à minha irmã que me arrumasse algum pote ou copo descartável, pois tinha uma aranha no corredor e eu queria colocá-la para fora de casa, pois optei por não matar mais nenhum ser. No entanto, minha irmã, que como a maioria das pessoas não se preocupa em matar insetos, quando viu a aranha simplesmente pisou em cima dela. Isso me deixou verdadeiramente triste, mas gerou um diálogo que me levou a uma reflexão bem interessante (pelo menos eu achei interessante).

A justificativa da minha irmã para ter matado a aranha é que ela poderia ser venenosa e picar alguma de suas filhas (uma com 3 e outra com 10 anos). Eu disse que não havia necessidade de matá-la, bastava colocar para fora de casa, e ela disse “Para ela voltar depois?”. Eu argumentei então que bastava colocá-la em uma árvore, que seria um lugar adequado e agradável para ela, que ela não voltaria. A conversa ainda continuou mais um pouco, pois ela temia que a aranha pudesse picar alguém do condomínio, etc, etc, etc.

Bom, o que interessa é que a história da aranha me fez pensar no exercício que ela havia corrigido; por que o homem matou o garoto ao entrar em casa? Porque temeu por sua própria vida. Mas porque simplesmente não pôs o bandido em mira e ordenou que saísse de sua casa? Provavelmente temia que ele pudesse voltar depois e se vingar. Então eu pensei, se esse homem, tal qual vários iluminados vieram nos ensinar, demonstrasse tamanha compaixão pelo jovem e resolvesse ajudá-lo, se apenas o tivesse rendido, por segurança, e conversasse com ele, procurando saber o porquê da vida que ele estava levando, e encaminhasse-o para um lugar agradável, uma instituição que pudesse ajudá-lo a se recuperar, mostrando a ele um caminho de amor, será que ele voltaria para se vingar? Eu penso que não, eu penso que se ele voltasse seria para agradecer.

Não estou preocupado nessa reflexão se não existe tal lugar, se isso é uma utopia na nossa sociedade, pois não estou pensando pequeno, não quero prender minhas reflexões ao “real”, pois em muitos casos é por isso que nunca chegamos ao ideal, pois quase nunca damos ao ideal a possibilidade de se manifestar.

Talvez se conseguirmos tratar os pequenos animais, que de nenhuma forma ameaçam nossa vida, com maior compaixão e respeito, talvez consigamos de uma forma mais fácil estender essa mesma compaixão e respeito a todos os nossos semelhantes. Claro que vocês podem pensar, “como uma aranha venenosa não é um risco à nossa vida?”, mas ela só é um risco enquanto estamos na ignorância a respeito dela. Pergunte a um biólogo que trata de animais peçonhentos se ele tem medo de aranhas, cobras ou escorpiões, eu imagino que não, e esse não medo vem simplesmente do conhecimento do outro.

É isso aí gente, desculpem se o texto ficou muito pesado, mas esse tempo sem escrever me enferrujou um pouco.

Espero que semana que vem tenha mais.

Obrigado a todos,
Mateus

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Avatar – O filme

Duas semanas atrás fui assistir ao filme Avatar, e saí do cinema louco para escrever sobre o filme. Demorei um bocado para sentar em frente ao computador e começar a escrever, o que foi ótimo para me ajudar a trocar impressões e ampliar minhas reflexões sobre o filme.

Nos últimos anos, poucos filmes me chocaram tanto, e acho que desde “Matrix” não assisti um filme holywoodiano com tanta informação preciosa. Mas infelizmente esse não é o entendimento geral. Li muitos comentários a respeito do filme dizendo o quanto James Cameron foi genial e inovador no modo de fazer cinema, “pena que a história seja fraquinha”. Mas como disse um amigo, o filme tem várias leituras dependendo da bagagem de cada um. E por isso saí do filme com muita vontade de escrever, para passar um pouco do que eu vi, e espero que façam o mesmo. Quem sabe esse texto não consegue ser um campeão de comentários, no rastro do campeão de bilheteria que o inspirou.

Procurarei me ater apenas aos fatos que me chamaram mais atenção, para manter o padrão de tamanho dos textos, pois as reflexões sobre o filme são assunto suficiente para um livro. Começando pelo óbvio, Pandora é a Terra primitiva, sendo atacada pela Terra do futuro, e o não tão óbvio (até por ser a minha visão dos fatos), representando o conflito que a Terra está vivendo no presente, embora ele use claramente os conflitos entre americanos e índios da época da conquista do oeste. Depois eu volto a este ponto.

Fiquei impressionado com a maestria com que James Cameron representou a maneira como nos ligamos, ou deveríamos nos ligar, à natureza ao nosso redor. A ligação física feita pelos Na’Vi, povo “fictício” criado pelo cineasta, habitantes originais de Pandora, é apenas a reprodução da ligação sutil que temos com todo o cosmo, basta estarmos atentos a nossa respiração, por exemplo, e somos capazes de perceber o mundo de outra forma.

O que dizer então da relação com os animais durante as caçadas, ou quando Neitiry (a mocinha) mata os “lobos” para salvar a vida de Jake (o mocinho)? Não há raiva, não há cobiça, não há prazer, há apenas compaixão, respeito e agradecimento ao sacrifício desses animais, que permite a sobrevivência do povo Na’Vi.

E a diferença de tamanho entre os humanos e os Na’Vi? A meu ver é muito simples, os Na’Vi embora tecnologicamente rústicos, embora vistos como “atrasados” pelos terráqueos, são extremamente mais evoluídos como seres, e isso está representado por seu tamanho e força, enquanto os terráqueos, embora acreditem ser grandes, apresentam um complexo de inferioridade tamanha que precisam entrar em robôs gigantes para se sentirem poderosos. Isso é típico do nosso modo de pensar e agir, acreditamos que só há força fora de nós, ainda não conseguimos acordar para o nosso potencial.

E a forma de atingir esse potencial é bem clara no filme, para Jake começar suas primeiras lições, primeiro é orientado a esvaziar seu copo, isto é, se livrar de seus preconceitos. Quando as lições começam, ele aprende que para se desenvolver tem que desprender dele mesmo e sentir o todo a sua volta (lembram da cena dele caindo da árvore tentando se apoiar nas folhas para chegar ao chão?)

Pois é, há muito mais o que falar, mas eu já estourei meu orçamento de linhas. Para finalizar, gostaria apenas de voltar ao conflito final, que é o que acredito que passamos nos dias de hoje, e está para se intensificar cada vez mais com a aproximação de 2012. A Terra está hoje se defendendo, e irá escolher para lutar ao lado de quem pode ajudá-la a se desenvolver, a continuar no seu processo natural de evolução, é por isso que é tão urgente escolhermos de lado queremos ficar, é preciso decidir se continuaremos a fazer parte do “Povo do Céu” ou se nos tornaremos Na-Vi.

Muito obrigado a todos,
Mateus

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

As lições do Haiti

Passada pouco mais de uma semana do terremoto que devastou o Haiti, consegui reunir algumas reflexões a respeito do que ocorreu lá e gostaria de compartilhar com vocês. Em primeiro lugar vale entender a magnitude do desastre; o Haiti praticamente acabou pelo que vemos através dos jornais, e é muito provável que o número de mortos em função do terremoto continue crescendo, mesmo que agora de forma indireta, sejam por infecções “hospitalares” (entre aspas porque hospitais mesmo praticamente não existem mais), doenças sanitárias, por fome, conflitos gerados pela fome ou em tentativas de fuga do país.

Eu entendo que o Haiti acabou, e me perguntei por que lá? Justo o país mais pobre das Américas. Acreditando que nada é por acaso, talvez por ser o país menos preparado estruturalmente para essa tragédia, tenha o povo mais forte para suportar essa adversidade, haja vista os resgates de pessoas vivas que aconteceram mais de uma semana após os desabamentos.

Outro motivo é o sentimento de compaixão e solidariedade que essa tragédia despertou. Nessa época de mudanças, em que precisamos mais do que nunca nos tornar seres compassivos, e como diz meu mestre, depois de tantos exemplos de amor que nos foram dados e não assimilados, vem uma tragédia para nos ensinar pela dor, uma dor tão forte que nos fez, a todos, pensar um pouco mais no próximo.

Mas mesmo com toda essa ajuda, e apesar de sabermos das dificuldades de distribuição e entrega dessas doações no Haiti, me choca o desprezo com que os haitianos estão sendo tratados. Nos primeiros dias, as equipes de resgate internacional se focaram em salvar seus compatriotas, somente depois iniciaram o salvamento dos haitianos. O próprio EUA 100% disposto a “ajudar” já montou operações para evitar que refugiados do Haiti entrem no seu país.

Talvez o maior ensinamento que essa tragédia nos dará, pois a meu ver o Haiti é um país, hoje, condenado, é de que antes de sermos cidadãos desse ou daquele país, somos acima de tudo seres humanos, nascidos do ventre da mesma Mãe Terra, e devemos nos tratar dessa forma. Eu me pergunto como qualquer país signatário dos Direitos Humanos pode negar abrigo imediato a pessoas que não têm nem mesmo o que comer, fora todos outros direitos básicos do ser humano.

Eu já ouvi, ou li, que uma das mudanças da Nova Era é o fim das fronteiras, talvez os terremotos no Haiti estejam apenas nos preparando para essa realidade, pois creio que mais importante que levar suprimentos aos haitianos, é levar os haitianos aonde possam viver com dignidade.

Muito obrigado a todos,
Mateus

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Desastres

Depois de uma longa ausência, não por falta de assunto, mas principalmente por uma provável insegurança subconsciente, é hora de voltar a escrever. Refleti muito sobre o tema de hoje, e talvez o medo de ser apocalíptico, ou passar a idéia de querer dizer uma verdade, tenham me feito demorar tanto a escrever esse texto.

Sendo assim, gostaria de frisar, novamente, que esse texto reflete apenas a minha visão pessoal, e não pretende ser uma descrição da verdade, e ao contrário do que alguns de meus textos possam sugerir, não acredito que estejamos caminhando para o “Fim do Mundo”, mas apenas para uma era de profundas transformações.

Desde o início do ano, quando ocorreram as tragédias de Angra dos Reis, São Luis do Paraitinga e outras, em decorrência das fortes chuvas que castigaram boa parte do nosso país, quis escrever a respeito. Essas tragédias, infelizmente, não foram fato novo para nós, ano passado testemunhamos diversos reveses naturais, principalmente em função de chuva e tempestades de ventos no Sul e Sudeste do país.

O que gostaria de dividir com vocês, é a minha impressão sobre os acidentes de 2009 em comparação aos de 2010. Em 2009 ocorreram vários desastres naturais, de proporções seriíssimas, mas que me chamaram atenção pelo baixo índice de mortes e até mesmo pessoas acidentadas, em proporção aos estragos ocorridos.

Lembro-me de uma escola no ABC Paulista, que toda cobertura da quadra esportiva caiu, mas não houve um ferido sequer; a explosão do bazar em Santo André, que destruiu quase que um quarteirão e ocasionou apenas dois óbitos, dentre uma série de outros acidentes. Esse padrão parece ter se repetido também em países do exterior, pelas poucas notícias que assisto. O meu sentimento em relação a esses acidentes é que foram avisos, avisos nos dando uma chance de perceber o que está por vir.

Em 2010, no entanto, já começamos o ano com mais de 50 mortos em Angra dos Reis; São Luís do Paraitinga, apesar da falta de óbitos civis, é como se a cidade tivesse morrido (ainda estou refletindo sobre como uma cidade com uma preocupação ecológica declarada, além de um reduto cultural incomparável no estado de São Paulo sofreu uma tragédia dessas proporções).

Ainda por cima, em contraste com os grandes desastres, sem vítimas significativas do ano passado, na segunda semana do ano, a cobertura de um ponto de ônibus cai e mata um senhor, no dia seguinte, cai uma marquise de dois metros quadrados e mata um garoto. E nem há o que dizer sobre o terremoto no Haiti. Agora o meu sentimento é que a época dos avisos acabou.

Mas não penso que seja o fim do mundo, mas apenas o momento de refletirmos sobre momentos de mudança; se mudar é tão difícil assim; e se a mudança for mesmo inevitável, que papel queremos desempenhar nesse processo.

Muito obrigado e boa semana a todos,

Mateus