domingo, 22 de novembro de 2009

Um soco é só um soco!

Tem uma história que era contada por Bruce Lee, e que já era contada muito antes dele, sobre o desenvolvimento de um artista marcial. Quando alguém começa a aprender a lutar, acha que um soco é só um soco, mas assim que as primeiras lições são ensinadas, o aprendiz descobre que há muito mais em um soco; é preciso posicionar o punho de forma correta, encaixar ombro, quadril, manter a guarda enquanto executa o soco. Depois que a estrutura física está adequadamente coordenada, o lutador ainda aprende como deve direcionar a energia durante um soco e pensa, “como eu podia achar que um soco é só um soco, com tanta coisa envolvida” e continua treinando; treina, treina até o ponto em que domina toda complexidade que há em um soco, e percebe então que um soco é só um soco.

Mas qual é o ensinamento que isso nos trás? Há alguma diferença entre o primeiro soco e o último soco? O que distingue o primeiro soco do último é a consciência que se tem do soco. Ao começar a treinar o lutador faz um soco sem ter consciência desse soco, mas à medida que se desenvolve, seu soco, que passa por todo um processo de intelectualização e aprimoramento técnico, de repente torna-se algo tão natural que volta a ser apenas um soco, mas nesse momento o lutador tem total consciência sobre o soco. Essa é a grande distinção.

Eu acredito que esse processo cíclico esteja presente em tudo no universo, inclusive e principalmente em nosso processo de desenvolvimento pessoal e como espécie.

Individualmente nascemos totalmente integrados ao universo; as ações de um bebê são instintivas, sua respiração é correta, ele dorme quando tem sono, se alimenta quando tem fome, mas não tem consciência do que faz, nem porque faz. No decorrer da vida nos afastamos do natural, e na medida em que desenvolvemos nosso intelecto e nossa identidade criamos uma barreira que nos separa de nossa essência. É importante entender que esse estágio, embora perigoso, é importante para que possamos completar o ciclo, e voltar a comungar com o universo de forma consciente. Por isso é importante colocarmos todo nosso esforço na redescoberta de nossa essência, estudando e praticando, para que possamos retomá-la de forma consciente.

Da mesma forma, como espécie, um dia moramos num paraíso, mas quem lá estava não tinha essa consciência, não imaginava que habitasse o paraíso, pois ali era o seu lugar natural. Foi preciso toda essa evolução, as guerras, as doenças, a segregação, para evoluirmos como espécie, e termos condições de voltar a habitar um paraíso, mas dessa vez conscientes de que lá estamos. Mas para que essa evolução da espécie ocorra, é preciso que individualmente sejamos capazes de realizar nosso ciclo, e assim completar o ciclo de toda espécie.

Obrigado e boa semana a todos,

Mateus

2 comentários:

  1. Mais uma vez, brilhante... E depois ainda temos coragem de nos questionar tantas vezes "Porque éramos felizes sem saber..." Falta-nos essa conciência e integração com o universo... QUe possamos alcançá-la o quanto antes...
    Beijinhos,
    Van Tacchi

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  2. Segue o comentário de uma querida amiga, Silvana Pacífico.

    Que interessante!
    Isso me faz lembrar dos ensinamentos da Isha.
    Lá treinamos nosso amor consciência.
    Treinamos nossa presença!
    Buscar nossa essência no amor consciência.
    Estarmos completamente presentes em todos os nossos momentos.
    É tão complexo e tão simples ao mesmo tempo!.
    Complexo porque nos afstamos de nós mesmos, esquecendo quem somos de verdade.
    E tão simples quando lembramos quem somos nós!
    Seres perfeitos, que apenas estamos voltando para casa, de onde nos afastamos em algum momento de nossas vidas.
    Muito bom seu texto. Me fêz lembrar um pouco de mim. Me fêz voltar para casa.

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